segunda-feira, 18 de outubro de 2010

The Secret of Monkey Island

Plataforma analisada: PC (MS DOS)
Também disponível para: Atari ST, Amiga, Mac OS (clássico), FM Towns, Mega CD
Remake disponível para (edição especial): PC (Windows), PS3, XBox 360, iPhone e iPad
Lançamento: 1990/1991 (Amiga e PC VGA)
Desenvolvedor: Ron Gilbert, com colaboração de Tim Schafer e Dave Grossman
Distribuidora: Lucasfilm Games (atual LucasArts)
Mídia original: disco de 5 1/4" e 3 1/2"
Gênero: adventure gráfico

Bastante populares até a década de 90, os adventures foram um dos gêneros de maior destaque nos computadores PC. Destes, certamente The Secret of Monkey Island foi um dos mais conhecidos, conquistando fãs em diversas faixas etárias. 
Criado pelo lendário Ron Gilbert de Manic Mansion,  o jogador assume o avatar de Guybrush Threepwood, jovem desastrado com aspirações de se tornar pirata na iIha Mêlée no Caribe. Para tal, os líderes pirata lançam a ele três desafios: tornar-se um mestre espadachim, mestre em encontrar tesouros e mestre no roubo. Simples, não fosse a interferência de LeChuck, o pirata fantasma, e uma viagem para a misteriosa Ilha dos Macacos. É nesse cenário em que se passa um dos mais divertidos jogos de aventura, com bastante bom humor e tiradas fenomenais em 4 atos.


A tela título do jogo.
Piratas de verdade não ganham a luta apenas na habilidade com a espada, mas também no insulto e na capacidade de respondê-los a altura. Escute uma ofensa como "Então, já deixou de usar fraldas?" e responda "Porque, você quer uma emprestada?" para ganhar um ponto no duelo. O mecanismo para aprender os insultos é simplesmente excepcional, além de muito intuitivo Aprende-se os insultos em lutas contra outros piratas. Aprende-se um novo e, ao usá-lo, podemos aprender a resposta a altura. Vendo ele em funcionamento parece elementar, mas poucos jogos conseguiram fazer uma mecânica tão simples e eficiente sem beirar o fácil ou muito difícil.

Insulto: Você luta como um leiteiro!
Resposta: Que coincidência, você luta como uma vaca!
O roubo à casa do governador apresenta a governadora Elaine Marley, interesse romântico do Guybrush em toda a série. Claro, não sem antes passar pelos poodles piranha que guardam a casa. Claro, todo bom tesouro tem um mapa e um bom pirata deve usá-lo de acordo, mesmo que ele não passe de instruções de dança (o mecanismo seria repetido na continuação, Monkey Island 2: LeChuck's Revenge).
Elaine Marley, deixando Guybrush Threepwood sem palavras.

Neste ponto, a governadora é sequestrada e levada para a Ilha dos Macacos e devemos, além de comprar um barco e montar uma tripulação. Quem já comprou algo de um picareta rola de rir com o vendedor Stan, chegado em passar a perna no comprador, mas não tanto a ponto de perder o negócio. Uma vez com a tripulação formada (Carla, a mestre espadachim, Otis, o prisioneiro, e MeatHook), o grupo vai para a ilha, onde Threepwood deve se virar para enganar os canibais e chegar ao covil de LeChuck, numa visão de inferno peculiar, com cogumelos por todos os lados.


Não é todo dia que se vê um fantasma implorar pelo após vida.
Finalmente, o último ato leva nosso herói de volta a Ilha Mêlée para o confronto com LeChuck e o final romântico, mas não menos engraçado, do que é um dos melhores jogos do gênero. Dito assim, parece fácil e cheio de spoiler, mas acredite, tem um abismo entre saber a grosso modo o que fazer e fazer efetivamente, que é a grande graça do adventure.
Tecnicamente o jogo aproveitava o que o PC oferecia de melhor na época, capacidade de memória para fazer jogos que não seriam possíveis nos consoles. Mesmo tento uma placa de vídeo lenta, o resultado visual era muito bom, já que a maioria das cenas tem elementos estáticos. Isso dava espaço para personagens de tamanho generoso na tela, com muitas animações e detalhes que os videogames na época não tinham condições de fazer. Pecava apenas o som do jogo original, apenas com sons FM para Adlib, limitação superada no Amiga e Mac com uso de som digital, tanto para música como efeitos sonoros. A versão original tinha gráficos com 16 cores para placas EGA (podendo ainda rodar em CGA de 4 cores), mas uma versão melhorada foi lançada alguns meses depois para VGA (256 cores) e Amiga (32 cores).

Quem tinha um PC chulé na época, como os Cobra, via o jogo assim em CGA.

Mesmo com a parte técnica superior a média do período, o que tornava o jogo atraente mesmo era a diversão. Além de Monkey Island ser bom, o humor afiado  do jogo contrastava com os adventures sisudos da época. Mesmo a escolha do ambiente foge aos tema recorrentes da época, fantasia medieval ou contemporâneos, com tons mais realistas. Este clima descontraído fez com que Monkey Island tivesse vendas muito boas, a ponto da Lucas lançar logo em seguida a sequência, Monkey Island 2: Le Chuck's Revenge. A Lucas ainda desenvolveria dois jogos da série, já sem o Ron Gilbert, The Curse of Monkey Island  e Escape from Monkey Island, o último adventure gráfico lançado pela empresa. Um ponto forte é que o jogo explorava aspectos não lineares nos atos 1 e 3. Por exemplo, os três desafios do ato 1 podiam ser feitos em qualquer ordem, até mesmo juntos, intercalando atividades de cada um deles.



Apesar das muitas virtudes, o jogo também tem lá seus defeitos. Alguns quebra-cabeças são frustrantes e forçam um pouco a amizade com o jogador. Um exemplo é o macaco na terceira parte. do jogo Os diálogos não indicam, em momento algum, que alimentar o macaco com todas as bananas que você encontra fará com que ele te siga e imite o que você faz.  Muito menos dá uma ideia de como isso será útil no jogo. Isso afastava muitos jogadores iniciantes no gênero, justamente no jogo que era tido como o melhor para os ainda não iniciados.  A edição especial do jogo, lançada recentemente sana muitas dessas dificuldades com um sistema de dicas integrado no jogo, viando ajudar o pessoal que cresceu sem ter que pensar muito no Doom e Unreal.


Versão clássica (VGA) e a edição especial em alta definição.
Os fãs mais saudosistas reclamam da falta de jogos do gênero hoje, porém é fácil entender porque a Lucas Arts e outras não se interessam nesse mercado, que hoje é nicho. Na década de 80 e no começo da década 90, o mercado de jogos para PC era muito diferente do que vemos hoje. Predominavam gêneros praticamente extintos, como simuladores, principalmente de vôo, e os adventures. Mudanças de público, evolução tecnológica e difusão na plataforma colocaram certos jogos de lado no mercado mainstream e, infelizmente, para os fãs do gênero, jogos como Monkey Island só ganharam sobrevida no mercado independente, que visa um público mais restrito e não depende de o tão elevados. Por sinal, hoje a Telltale Games produz jogos episódicos de Monkey Island e Sam & Max, outro adventure gráfico da Lucas.
Além disto, pesa o fato de que para o público atual há opções de melhor digestão.  Muitos jogos de plataforma com exploração incluem elementos de aventura e quebra-cabeças bastante semelhantes aos dos adventures gráficos, como o caso da série Ratchet & Clank. Os próprios criadores do Monkey Island seguem forte nesta tendência, Ron Gilbert lançou recentemente o bem humorado Death Spank, e Tim Schaffer fez, além do aclamado Psychonauts, o Costume quest, um jogo descrito como RPG, mas que no fundo tem muito mais de adventure gráfico do que Final Fantasy.

O manual do jogo e o disco gerador de códigos -bisavô do DRM.

Uma curiosidade de Monkey Island, e demais adventures da Lucas,  é que não existe game over. Não é possível perder um objeto e deixar de poder acabar o jogo por conta disso, ou partes temporizadas, como nos adventures da Sierra.  O jogador é livre para fazer o jogo no seu ritmo, sem medo de falhar. Monkey Island tem uma exceção, porque numa piada do jogo o Guybrush pode morrer, o que muda o menu de ações do jogo por completo (a piada), mas em nenhum momento o jogo indica uma mensagem de derrota e volta para a tela título. Talvez, para o que é considerado o melhor adventure gráfico da Lucas, esta exceção seja merecida, ainda mais que é uma escolha do jogador e a situação é bastante engraçada.
Por fim, Monkey Island possui dois finais para os personagens coadjuvantes. Em um deles, o Herman Toothrot, encontrado pelo Guybrush na Ilha do Macacos, continua preso nela. No segundo final, são os tripulantes do barco do Guybrush que ficam para trás. Não muda nada em relação ao desfecho do triângulo Guybrush-Elaine-LeChuck, mas mesmo assim, não deixa de ser curioso.

O que tem de bom:
  • Bom humor afiado.
  • Aventura não linear em boa parte do jogo.
  • Gráficos bem detalhados, em especial na versão VGA, que mostravam o que estaria por vir na plataforma nos anos seguintes.
  • Música que aproveitava a capacidade sonora da Adlib ao máximo.
  • Personagens cativantes, com personalidades bem definidas e, muitas vezes, impagáveis.

O que não ficou lá essas coisas:
  • Alguns quebra-cabeças forçam a amizade, não sendo lá muito fáceis de resolver.
  • Apesar de ser dividido em quatro partes, a distribuição entre elas é desigual. A parte 2 é bem curta, já a parte 4 está lá só para cumprir tabela.
  • Tiraram a piada do tronco a partir da versão Mega CD.

Avaliação 20 anos depois: joguei no PS3 o Monkey Island - Special Edition para falar dele, conseguindo 100% dos troféus. Quase 20 anos depois de jogá-lo pela primeira vez, os quebra-cabeças continuavam tão divertidos como antes. Como não lembrava de quase nenhum deles, foi bastante desafiante redescobrir o que fazer em cada parte e rir das situações cômicas. Inclusive descobri que haviam dois finais no jogo, já que um dos troféus é ver os dois finais com apenas um slot de save. A diversão é garantida, então se você tiver a chance, jogue o The Secret of Monkey Island, vale cada minuto de diversão de um gênero que moldou muitos dos nossos jogos atuais.

Como jogar: se você ainda tem o jogo original para PC, use o DosBox, ou se tiver a versão do Amiga, dá para usar o Ubiquitous Amiga Emulator. Claro, tem emulador para todas as outras versões, mas estas duas são, certamente, as mais populares aqui no Brasil. Porém, a edição especial compra-se por download a preço de banana, seja para PC (Steam e Direct2Drive), PS3, XBox ou iPad/iPod.  O update nos gráficos e adição de vozes é imperdível, somando ao já inegável charme da produção. Além disso, tem o sistema de dicas, que pode ajudar os marinheiros de primeira viagem na jornada.