sexta-feira, 4 de junho de 2010

Turrican II - The Final Fight

Plataforma analisada: Amiga
Também disponível para: Atari ST, Commodore 64, ZX Spectrum, PC (DOS), Amstrad CPC
Lançamento: 1991
Distribuidora: Rainbow Arts
Desenvolvedora: Factor 5
Mídia original: 2 discos de 880kb
Gênero: ação, plataforma

No ano 3025, a paz é garantida na galáxia Cobra 2 pela United Planets Freedom Force. A nava Avalon 1 se encontra prestes a ultrapassar os limites da galáxia, quando uma nave de combate se materializa diante da Avalon 1. A equipe do Coronel Ardon C. Striker se vê incapaz de se defender com os sistemas de defesa da nave misteriosamente desativados. O soldado Bren McGuire é atingido é preso por destroços enquanto os últimos companheiros de batalha são aniquilados. O imperador The Machine, parte homem, parte máquina, ordena que seus mutantes abandonem a nave, satisfeito com a destruição. Finalmente livre dos destroços, Bren veste a roupa de combate Turrican e parte parte em busca de vingança.
Desenvolvido pela Factor 5 e publicado pela Rainbow Arts, Turrican II é considerado por muitos (eu incluso) o melhor jogo já feito para o Amiga em todos os quesitos. Misturando a ação contínua de Contra, com elementos plataforma de Mario e Metroid (inclusive a transformação em bola) e uma fase como jogo de nave inspirada em Darius e Gradius, o jogo acerta em cheio com ação balanceada, curva de aprendizado suave, gráficos detalhados e música fenomenal, mesmo para os padrões atuais. 
A ação é simples, pular e atira com uma das três armas, spread, laser e bounce.  A arma pode ser usada continuamente, como um chicote laser, mas de acionamento lento e curto alcance. Opcionalmente, podemos transformar o personagem em uma bola invencível, que pode lançar minas no chão, ou então usar uma linha especial (limitada) que destrói os inimigos no caminho, ou então usar o ataque definitivo, que tem o jogador transformado em bola e atirando para todos os lados. Fosse apenas isso, Turrican II seria apenas mais um jogo no estilo Contra, porém, o aspecto plataforma e exploração de Metroid e Mario dão uma profundidade totalmente diferente do tradicional. O jogo conta com inúmeros itens a serem coletados, blocos escondidos, power ups, passagens secretas e outros para tornarem o jogo uma experiência exploratória completa. Vale dizer que alguns chefes eram opcionais, devendo ser encontrados para coletar itens de pontuação que jamais seriam encontrados no caminho normal das fases. O terceiro mundo do jogo anima os fãs de shmups, com chefes claramente inspirados por Gradius, Darius e Air Buster, este último recém lançado quando o Turrican II foi desenvolvido.
A equipe original da Factor 5 era seriamente influenciada pelo estilo japonês de desenvolver jogos, do visual ao polimento dos controles e dificuldade. A abertura denuncia a influência direta dos animes, em especial do Macross, que "empresta" a aparência visual da nave. O visual e animação dos personagens lembra muito jogos como os Castlevania (o movimento do Turrican é idêntico) e Mario, com inimigos em que podíamos pisar em cima para derrotá-los. A preocupação com o balanceamento da dificuldade e inclusão de elementos diferenciados, como o vento (lembra do Ninja Gaiden 2?), esteiras rolantes e pedaços de cenário destrutíveis (Castlevania e Metroid) indicam o cuidado da equipe numa época em que as produções européias ainda acertavam os ponteiros para o padrão de qualidade ao qual estamos acostumados hoje.
Os gráficos são acima da média para a plataforma, com animações caprichadas, inclusive interações simples com o cenário, como uma ponte que balança quando o personagem passa sobre ela. Mas o grande destaque de Turrican II é a trilha sonora no Amiga. Composta por Chris Hülsbeck, a música 100% digital é o melhor exemplo do que o formato tracked é capaz de fazer quando bem explorado. Não só a qualidade excepcional da trilha se destaca, mas como o fato de que ela continua atual mesmo hoje e os remixes disponíveis mais parecem interpretações do que remakes das músicas originais. Some isso ao fato de que a Factor 5 foi além dos limites da plataforma e usou mixagem de 7 canais, permitindo música e efeitos sonoros de alta qualidade (sério, no Amiga isso era raro).

Era difícil ver o Turrican II em ação na época sem sair impressionado com o Amiga. Hoje podemos ver o vídeo e achar "normal", mas para a época do lançamento, Turrican II era o melhor que se podia ter em casa, em um microcomputador. Claro, o melhor era jogá-lo e, os controles, limitados a um botão no Amiga, fluíam naturalmente e a ação se desenrolava sem maiores dificuldades, em segundos estávamos atirando contra inimigos, descobrindo blocos escondidos com power ups, ou então se divertindo pulando sobre inimigos que, uma vez derrotados, saíam correndo pela tela até explodir na primeira parede em que batessem. Enfim, era diversão instantânea, que durava do começo a batalha final com o The Machine, em um mundo alien que remete diretamente ao ninho alienígena do filme Aliens.
Entre as curiosidades em torno do jogo, a Factor 5 foi formada por ex-funcionários da Rainbow Arts, que mais tarde seriam bastante conhecidos pela série Rogue Squadron nos videogames da Nintendo. A franquia, que iniciou no Commodore 64, seria levada pela Factor 5 ao Megadrive (Mega Turrican) e ao Super Nintendo (Super Turrican 1 e 2). Porém a coisa mais estranha foi o lançamento de uma versão licenciada pela Accolade, que foi modificada na última hora para ter a aparência de um jogo do filme Soldado Universal (é, aquele com o Van Dame mesmo). Simplesmente trocaram o desenho de alguns personagens (o principal incluso), a ordem de algumas fases e eliminaram a fase de jogo de nave, substituída por duas novas fases meia-boca. Essa versão saiu para Megadrive e Gameboy. Uma versão para SNES chegou a vazar em versão xing-ling na época (joguei ela inclusive), mas nunca foi oficialmente lançada.
Ainda sobre a Factor 5, ela chegou a anunciar uma versão 3D do jogo para plataformas modernas. Mas o fechamento da empresa, após o fracasso do Lair para PS3 e o cancelamento de projetos com a Lucas Arts, acabaram com as esperanças dos fãs da série em ter um novo jogo lançado num futuro próximo.

O que tem de bom:
  • Gráficos bem detalhados, com animações suaves e cenários gigantes.
  • Música excepcional, misturando, entre outros estilos, música clássica, eletrônica e new age. Muitos jogos de hoje ficam atrás do Turrican II nesse quesito.
  • Controle simples e eficiente, com dificuldade bem balanceada.
  • Usar o vento a favor para subir no cenário enquanto inimigos estilo Megaman caem de pára-quedas. Memorável.
  • Tempo de carregamento rápido para o padrão da época.
  • Mistura legal de ação com plataforma e exploração em cenário enormes.
O que não ficou lá essas coisas:
  • O roteiro é um verdadeiro PWP (plot? What plot?). É um clichê só que está ali apenas para marcar tabela (nem isso precisava). Se a tal roupa Turrican estava na nave o tempo todo, porque não usaram ela antes?
  • Misturar um jogo de plataforma/ação com um jogo de nave. Eu curti, mas muita gente estranha essa homenagem.
  • Cada fase tem um tempo limite, normalmente muito baixo para se explorar o cenário todo e encontrar todos os itens espalhados. Fatalmente se perde uma vida fazendo isso, o que é ruim, mesmo que se ganhe pelo menos umas 3 no processo.
  • O mundo alien tem locais em que o cenário é mortal, sendo bastante fácil ficar preso sem querer e perder uma vida de bobeira (um dos poucos defeitos graves).
Avaliação 19 anos depois: poucos jogos são tão representativos para uma plataforma da maneira em que Turrican II representou o Amiga. Explorando ao máximo o hardware de um computador avançado para a sua época, o jogo só é datado pelo aspecto visual e pela sua duração (pouco mais de hora e meia), curta para a expectativa atual de 20 ou mais horas de jogo. Tirando isso, o jogo continua tão divertido de se jogar como no dia em que inseri o primeiro disco no  meu velho Amiga. Imperdível!

Como jogar: para quem não quer usar emulador, tem alguns remakes disponíveis para download. Para quem quiser ver o original, a própria Factor 5 disponibiliza o backup da imagem ADF dos discos de Amiga de TODA a série Turrican para quem possui os jogos originais, ou for cara de pau mesmo (para quem nunca viu, tem alguns clássicos de graça mesmo). Para rodar os discos, basta usar o Ubiquitous Amiga Emulator, tendo versão para Ubuntu disponível no Synaptic além de, claro, para Windows. O Kickstart (versão 1.3 ou superior), a ROM do sistema, ainda tem direitos autorais, sendo vendida no pacote Amiga Forever, (tem opção barata de 10 dólares, bem menos que um Amiga real no eBay), ou então tem que apelar pra cara de pau e achar no Google mesmo.

2 comentários:

  1. Suas matérias estão cada vez melhores! Turrican só conhecia do mega e do Snes. Do Amiga não deve nada às duas, tomadas as devidas proporções, claro!

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  2. o seu trabaho em relatar todos os jogos são muito bom e bastante esplicativo.

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